O plano do governo de Alberto Fernández era chegar às eleições presidenciais de 22 de outubro com a situação minimamente sob controle, mas o objetivo não foi alcançado
A escassez de dólares já afeta o dia a dia dos argentinos. Com entraves cada vez maiores para a importação de produtos, o país sente os efeitos da falta de insumos médicos, remédios, automóveis, materiais de construção e até de alimentos, como palmito, abacaxi e atum, entre outros. A falta de insumos médicos já adia cirurgias. Nas concessionárias, são poucos os automóveis expostos: não há carros disponíveis para venda nem previsão de quando a situação vai se normalizar.
Segundo O Globo , neste mês, o chefe de Cardiologia da Fundação Favaloro, uma das clínicas privadas mais importantes de Buenos Aires, Oscar Mendiz, teve de reprogramar uma cirurgia porque não contava com uma válvula específica para operar uma artéria pulmonar.
O país importa 100% dos insumos médicos que utiliza. Nos sistemas público e privado, já não se encontra o líquido usado para tomografias com contraste e cateteres.
Fontes empresariais ouvidas pelo GLOBO confirmaram que, desde julho, a escassez de divisas chegou a um ponto tão dramático que o governo fechou a torneira para todo produto acabado importado. A decisão terminou afetando também as companhias nacionais, que, em muitos casos, não conseguem insumos básicos para manter a própria produção.
Se no passado a Argentina já se fechou para implementar um plano clássico de substituição de importações como estratégia para impulsionar a indústria nacional, desta vez o cenário é outro.
O plano do governo de Alberto Fernández era chegar às eleições presidenciais de 22 de outubro com a situação minimamente sob controle, mas o objetivo não foi alcançado.
O setor de saúde não é o único a sentir o impacto. A escassez de dólares aumenta a percepção da crise em um país com inflação de 100% em 12 meses e com preços que aumentam até 20% de um mês para o outro. Um empresário que pediu para não ser identificado se refere ao peso como “entrada de circo”.
No setor automotivo, o cenário é de paralisia nas vendas de importados. Comprar um carro zero quilômetro é missão praticamente impossível. Na Avenida Libertador, que atravessa quase toda a capital argentina, as concessionárias estão praticamente vazias. Não há carros disponíveis, e os interessados não podem sequer deixar um sinal para reservar um automóvel adiante, já que não há data para entregas. A resposta é sempre a mesma: “não temos preços e não sabemos quando teremos carros”.
No setor de alimentos, o chamado Sistema de Importações da República Argentina (Sira), encarregado de liberar as autorizações para trazer produtos importados e pagar fornecedores externos, veta produtos acabados. Nos últimos dias, circularam informações entre distribuidores sobre uma nova metodologia do governo argentino: autorizar as operações, mas sem informar a data em que o importador argentino terá acesso aos dólares para pagar o fornecedor. Resultado, os fornecedores externos estão limitando as vendas ao mercado argentino.