Caso os Brics avancem com a desdolarização, isso pode redesenhar o comércio internacional, mas também gerar retaliações econômicas por parte dos Estados Unidos
O governo brasileiro decidiu não responder oficialmente à ameaça feita pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 100% sobre os países do Brics caso o bloco substitua o dólar em suas transações comerciais.
A proposta de desdolarização, defendida por lideranças do Brics, busca reduzir a dependência do dólar norte-americano no comércio global. Recentemente, a presidente do Banco dos Brics, Dilma Rousseff, afirmou que o dólar tem sido usado como uma “arma” pelos EUA para impor sanções e exercer influência política.
O bloco, que agora conta com dez membros — incluindo novos integrantes como Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos —, ainda está discutindo os detalhes dessa transição, sem uma decisão final.
Fontes do governo brasileiro classificaram, de forma reservada, a declaração de Trump como mais uma provocação do presidente eleito. A expectativa é que, ao assumir a presidência, ele adote uma postura menos combativa e mais diplomática, substituindo o tom agressivo usado durante sua campanha.
Diplomatas brasileiros também destacaram que ameaças semelhantes já foram feitas por Trump contra outros países, como China, México e Canadá, e que é necessário distinguir entre declarações de efeito político e riscos concretos.
Desde janeiro, o Brics ampliou sua base, passando de cinco para dez membros, um movimento que aumenta o peso político e econômico do bloco no cenário global. A ideia de diversificar as moedas utilizadas em transações comerciais tem ganhado força, especialmente entre países que buscam reduzir sua vulnerabilidade às sanções econômicas norte-americanas.
Embora o governo brasileiro adote cautela, a ameaça de Trump reflete a crescente tensão entre potências emergentes e os EUA em relação à hegemonia do dólar. Caso os Brics avancem com a desdolarização, isso pode redesenhar o comércio internacional, mas também gerar retaliações econômicas por parte dos Estados Unidos.
Por enquanto, o Brasil aposta em uma abordagem diplomática e na avaliação cuidadosa dos desdobramentos antes de qualquer resposta oficial.