Em outubro de 2021, Moraes havia ordenado a prisão de Santos, solicitando sua inclusão na lista vermelha da Interpol e sua extradição dos EUA
Uma reportagem da Folha de S. Paulo, publicada neste sábado, 17, revelou detalhes de uma conversa em 2022 entre dois juízes, um do Supremo Tribunal Federal (STF) e outro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que expôs a insatisfação com a atuação da Interpol e do governo dos Estados Unidos no caso do jornalista Allan dos Santos. Investigado em inquéritos relacionados a milícias digitais e disseminação de fake news, Allan dos Santos, que reside nos EUA, é considerado foragido pela Justiça brasileira, com mandado de prisão preventiva expedido pelo ministro Alexandre de Moraes.
Em outubro de 2021, Moraes havia ordenado a prisão de Santos, solicitando sua inclusão na lista vermelha da Interpol e sua extradição dos EUA. No entanto, até o momento, o alerta vermelho não foi emitido, e os EUA não responderam oficialmente ao pedido de extradição.
A conversa entre os juízes Airton Vieira, assessor de Moraes no STF, e Marco Antônio Vargas, do gabinete da presidência do TSE, ocorreu em novembro de 2022 e faz parte de um vasto acervo de diálogos obtidos pela Folha. O caso de Allan dos Santos voltou à tona após ele aparecer em vídeos insultando um brasileiro em Nova York, durante um evento privado com ministros do STF. Em mensagens de WhatsApp, os juízes expressaram frustração com a falta de ação da Interpol e dos EUA, sugerindo que questões políticas poderiam estar interferindo no processo.
Vargas chegou a sugerir, em tom irônico, a possibilidade de enviar “jagunços” para capturar Allan dos Santos e trazê-lo ao Brasil, enquanto Vieira lamentou a postura dos EUA, observando que o governo americano poderia tomar medidas rápidas se quisesse. Ambos os juízes também discutiram a possível influência da mudança de governo no Brasil sobre a extradição de Santos, embora reconhecessem que não havia garantias.
“Dá vontade de mandar uns jagunços pegar esse cara na marra e colocar num avião brasileiro”, disse Marco Antônio Vargas.
Em março deste ano, o governo dos EUA comunicou que não extraditaria Allan dos Santos, alegando que os crimes pelos quais ele é acusado são protegidos pelo direito à liberdade de expressão. No entanto, as autoridades americanas indicaram que poderiam seguir com o processo em relação a outros crimes, como lavagem de dinheiro.